27 de maio de 2011

A ESPIRAL UNIVERSAL E A MÚSICA


Sabe-se que antes de o fazer pelo ar, o som se propaga pelo éter; este quinto elemento ou quintessência Hermética é a origem dos quatro restantes. Por sua extrema rarificação imaterial, superior à do fogo, com o qual às vezes se identifica, o éter é o veículo por excelência da luz inteligível e do som inaudível, cuja natureza vibratória faz serem todos os elementos uma só e mesma coisa, antes de se diversificar através dos sentidos até o mundo exterior. Por sua extrema plasticidade, pureza, e receptividade absolutas, a Tradição também assimilou simbolicamente este elemento à água, à substância universal. Por isso a concha marinha, cuja forma nos lembra ao yoni feminino e à orelha humana, é o representante unânime (como as conchas de água benta dos templos cristãos) do poder purificador, produtivo e “generativo” deste supra-elemento divino.
É de sobra conhecida a lenda que faz das conchas as conservadoras do som do mar. Esta propagação se realiza em forma ondulatória, da qual a espiral é símbolo por excelência. Diremos, ademais, que este símbolo está estreitamente vinculado ao logaritmo pentagramático do crescimento dos seres vivos, o que explica a estrutura espiral própria das conchas e caracóis, bem como a do ácido desoxirribonucléico que preside a corrente genética, e também outros muitos exemplos que omitiremos por enquanto.
A medicina pitagórica atribuía à música um poder terapêutico por excelência. Disso também nos dá referência a Alquimia, quando faz coincidir os centros musicais com os centros sutis, e estes com as oitavas do microcosmo humano. Assim vemos como a música, encarada desde uma perspectiva sagrada, é muito mais do que parece. E também que as naturezas do tempo e do espaço, da água e o fogo, unidas indissoluvelmente no éter, origem de sua vida, sendo fundamentalmente distintas, tocam-se num ponto onde, sem se confundirem, fundem-se numa Harmonia Única e Universal.
Sócrates, nas palavras de Platão, confirma as Musas como as primeiras protetoras da arte da música, de quem ela recebeu seu nome. Como já afirmamos, o tempo e o espaço se relacionam mutuamente através do movimento, e este não é senão a expressão dinâmica ou rítmica de uma harmonia cujos modelos são os números. Ritmo e proporção, semelhantes respectivamente ao tempo e ao espaço, são a métrica pela qual ambos ficam reciprocamente ordenados, conformando a presença viva daquela mesma harmonia que se dá por igual no céu e na terra. A própria geometria (geo = terra, metria = medida), que ordena idealmente o espaço, está virtualmente implícita na música como relação métrica de seus intervalos. Harmonia, número e movimento são, pois, termos equivalentes e mutáveis entre si, quanto se referem a uma mesma realidade, seja à arquitetura sutil e musical do Cosmo, ao ritmo respiratório, às pulsações do coração ou ao compasso alternado das fases diurna e noturna do dia.
O homem especialmente recebe com mais intensidade do que qualquer outro ser terrestre o ritmo pulsatório da existência, o que, num sentido, converte-o no mais capaz de reproduzi-lo. De natureza musical está feita a alma humana e sua inteligência, já que são elas as que captam as sutis relações entre as coisas; a maravilhosa articulação que a todas mantém unidas, com seus matizes, num todo indivisível que se vai revelando à medida que a unidade e a harmonia se impõem a nosso caos particular.
No homem, como num pequeno instrumento em mãos de um músico invisível, segundo se nos diz no hermetismo antigo e do Renascimento, encontram-se todas as potências, virtudes e ritmos do universo, homologadas ou em diapasão com a natureza de seu estado. No entanto, nem sempre se é consciente disso, já que seu diapasão particular não está, em geral, afinado com o tom universal.

O significado da espiral

"A vida é como uma espiral e não como uma linha reta. Passado e futuro se encontram em um infinito presente".

A espiral é a essência do mistério da vida. Assim como se centra, ela também para, se encontra, se retorce e, então, desce e sobe novamente em graciosas curvas. O tempo se retorce em torno de si mesmo, trazendo os ecos e vibrações enquanto que os caminhos vivos da espiral passam próximos um do outro. A vida corre por estradas sinuosas, os seres se encontram em determinados pontos de suas caminhadas, se entrelaçam, se afastam, partem, retornam às origens. O ponto de partida também é o ponto de chegada trazendo-nos a questão do retornar sempre, reencontrar-se e se renovar.

As espirais também circulam dentro de nós, a energia circula em espiral, é onde a matéria e o espírito mais perfeitamente se encontram, e o tempo, por ele mesmo, não existe. Os nativos lembram as diversidades da vida e dos caminhos, e não compreendem o mundo de forma linear, o seguir em frente em uma única direção como se a vida fosse uma linha reta traçada entre um ponto de início e um de término. O destino é sempre ir além. O grande desafio de todo ser, por natureza um guerreiro trilhando as estradas das espirais da vida, é essa busca, é o retorno, é a partida, é caminhar em círculos/ciclos assim como caminha a natureza, pois somos parte dela. É fazer girar a roda do tempo, não nos prendendo em nenhum ponto em específico porque, assim, podemos vislumbrar os mais diversos pontos que compõem a espiral.

Sobre as formas espiraladas e circulares, Alce Negro, dos Oglala Sioux coloca o seguinte: "Tudo que o poder do mundo faz é feito em círculo. O ceú é redondo, e tenho ouvido que a terra é redonda como uma bola, e assim também o são as estrelas. O vento, em sua força máxima, rodopia. Os pássaros fazem seus ninhos em círculos, pois a religião deles é a mesma que a nossa. O sol nasce e desaparece em círculo em sua sucessão, e sempre retornam outra vez ao ponto de partida. A vida do homem é um círculo, que vai da infância até a infância, e assim acontece com tudo que é movido pela força. Nossas tendas eram redondas como os ninhos das aves, e sempre eram dispostas em círculo, o aro da nação, o ninho de muitos ninhos, onde o Grande Espírito quis que nós chocássemos nossos filhos".

Para os antigos celtas essa é toda a essência do mistério da vida. O circular, o espiralado. O tempo, uma das triplas linhas tão importantes para o imaginário celta, se retorce em torno de si mesmo. Os astecas achavam que certas flores que tinham em seu centro espirais, eram a alegria do mundo, mostrando o ciclo do sol, quando nasce e se põe, as estações, solstícios, ciclos assim como a vida dos homens. Os orientais falam da kundalini, do fluxo de uma energia em espiral, dos redemoinhos energéticos que perambulam nossos corpos.

Como vórtex de energia, as espirais encontradas em vestígios antigos expressavam um entendimento do cosmos, da energia vibrante, da vida, ou o seu contrário. Tradicionalmente, os ancestrais compreenderam que espirais no sentido horário representavam o nascer, o sol, a vida, o mundo de cima, a transformação pelas experiências exteriores. Para o sentido anti-horário, representavam a lua, a morte, o outro mundo, o mundo de baixo, o mundo dos sonhos e alucinações, intuição, as experiências transformadoras vindas do nosso interior. Para os hindus, o que no nosso mundo terrestre era no sentido anti-horário, para a esquerda, no mundo de baixo, no outro mundo, correspondia ao sentido horário. Hoje sabe-se que esses simbolismos expressam as funções cerebrais, o lado esquerdo do cérebro regula o lado direito de nosso corpo, o lado direito regula o lado esquerdo do corpo. Nem bom, nem mal, apenas diversidades que compõe o universo, uma perfeita simbiose, uma perfeita composição de energias.


Se vermos vários locais sagrados dos antepassados, desde o paleolítico, em qualquer parte do mundo, notaremos sempre a compreensão circular e espiralada. A espiral é a energia vital, é a energia em movimento, é a própria jornada.




A ESPIRAL DA VIDA

SEUS CICLOS E EVOLUÇÃO

A espiral é a representação material do movimento do universo.

Nós a encontramos tanto na configuração dos genes, quanto na morfologia humana, ou nas fotos das galáxias.

Ela se compõe de círculos abertos, que por estarem continuamente interligados tornam-se ciclos que evoluem em torno do tempo que lhes é próprio e que lhe serve de eixo.

Todo o Universo evolui segundo esta configuração acima descrita.

Assim, nosso “eu”, ou o conjunto de “eus” que nos cercam, são apenas alguns desses ciclos produzidos pelo universo.

Quando nós conseguimos acompanhar esses movimentos, este movimento de ciclos contínuos, nosso eu se harmoniza com aquilo que o cerca aqui e agora.

Algumas vezes, no entanto, nós não conseguimos seguir algumas viradas da espiral da nossa vida, no momento em que estas correspondem a outras situações mal vividas por nós anteriormente.

Este fato nos leva à constatação de que houve uma manutenção, a nível do “eu”, de uma configuração passada que, inconsciente, continua influenciando a ação presente, falseando dessa forma a percepção do que está exatamente acontecendo naquele momento.

Entre os sinais mais marcantes de que isto está ocorrendo, estãoa não aceitação de si mesmo,do outro como ele é,ou ainda,a sensação de estar dividido, em conflito entre duas decisões, situação essa geradora de angústia no presente, e de insegurança diante do futuro.

Em tais casos, o nosso pensamento está perdido no labirinto de uma realidade puramente subjetiva, num tempo puramente subjetivo.
No entanto, o nosso corpo, como toda a matéria , segue o tempo cósmico, e isto gera uma série de disfunções recíprocas, ou seja, isolado do tempo cósmico, longe do tempo físico onde o corpo existe, o “eu” não tem mais nenhum ponto de apoio.

Para que ele possa se locomover no espaço subjetivo, o “eu” precisa primeiro aprender a fazê-lo no espaço físico, no espaço do aqui – agora.

Somente quando ele puder se movimentar livremente no presente, no concreto, ele poderá fazê-lo igualmente no subjetivo, no abstrato.

Do contrário, ele será uma mera vítima das suas próprias ilusões.

Enquanto o “eu” não compreender de que modo ele está fazendo sofrer a si mesmo devido à interferência de formas arcaicas suas no presente, ele terá uma sensação desagradável de defasagem entre o subjetivo e o cósmico, ele será vítima da ilusão que alguém, a vida, o destino, ou a má sorte o estão prejudicando, ao invés de aprender a tomar decisões e a assumi-las.

E como o subjetivo não segue mais o cósmico, a vida será sentida como uma série de desencontros.
Esta sensação gera outra ilusão: a de uma oposição entre presença e ausência, vida e morte.

Esta ilusão nos impede de ver que estes fenômenos não existem isoladamente, mas representam simplesmente as duas faces de uma mesma realidade.

Esses desencontros ou oposições que nos fazem sofrer tanto, além de serem inevitáveis na existência de cada ser humano, são a maneira pela qual a vida nos revela a natureza do nosso “eu” que, antes da morte física, deverá passar por inúmeras mortes e renascimentos subjetivos.

Durante toda a nossa existência temos a ilusão de que falamos da mesma pessoa quando nos referimos a nós mesmos.

No entanto, esse “eu” não é o mesmo.

Ele é só um reflexo de estados subjetivos sucessivos.

Tanto é que o “eu” que fomos quando éramos crianças em quase nada corresponde aos desejos, ambições ou medos do “eu” que somos atualmente.
A mitologia faz alusão a este ser único, e múltiplo ao mesmo tempo, que é o nosso “eu”, através da figura do Phenix, este pássaro mitológico que morre e renasce das próprias cinzas.

Desta forma, para encontrar a sensação de unidade entre os descontínuos aparentes, o “eu” deve em primeiro lugar aprender a perder o seu medo de ” morrer”, de mudar de forma, sempre que seja necessário ou, como diria Goethe:

“Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar”.

Assim, só quando nós aceitamos a possibilidade de perder tudo aquilo ao qual o nosso “eu” está apegado, só quando aceitamos o fato que podemos mudar todas as nossas opiniões, é que estamos preparados para tomar consciência do que está realmente acontecendo “aqui e agora” no presente, independente dos nossos medos e desejos.

Estar assim no presente é estar na eternidade, pois o que é assim presente nunca é passado ou futuro.

Então, o que nos impede de estar em comunhão com o presente são os fantasmas dos nossos “eus” passados, ainda em confronto com o medo da autoridade paterna ou do desamor materno, que confundem na nossa cabeça o que foi com o que é, levando-nos em seguida a formular falsas suposições sobre o que será.

No entanto, quando aceitamos nossa natureza de “Phenix”, a única coisa que morre em nós é o que já não era vivo, e cada uma dessas “mortes” leva-nos seguramente a uma vida mais autêntica.


Referências:

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