Pequenas  pedras esféricas e discóides encontradas em minas da África do  Sul ,  próximas da cidade de Klerksdorp, têm sido promovidas como grandes   mistérios inexplicáveis pela ciência e por grupos variados de   defensores de teorias alternativas. Todo tipo de características e   atributos quase mágicos foram atribuídos aos objetos, incluindo:
- Uma composição de materiais, incluindo uma “liga de níquel e aço não encontrada na natureza”, ou ainda não encontrada no planeta Terra;
 - Resistência extraordinária, igual ou superior ao aço;
 - Não obstante, quando “abertas”, revelam um frágil material interno “esponjoso” que se transforma em pó;
 - Grande precisão em suas dimensões, com elementos perfeitamente esféricos, “perfeitamente equilibrados, excedendo os limites de precisão dos instrumentos de medida” em uma análise do Instituto Espacial da Califórnia, que fabrica giroscópios para a NASA;
 - Um número variado de ranhuras próximas do centro, ou “perfeitamente” centralizadas;
 - A capacidade inexplicável de girar espontaneamente, o que pôde ser observado nos espécimes exibidos em mostradores selados do museu de Klerksdorp;
 
E, no que completaria o mistério, o principal detalhe:
- As esferas foram encontradas nas minas de Wonderstone, sendo datadas emaproximadamente 3 bilhões de anos de idade.
 
Incrivelmente,  esta última característica é verdadeira. Contudo, é  também uma das  únicas características verdadeiras entre todas as  histórias circuladas a  respeito das esferas.
Na visão dos céticos
As  rochas não são originárias realmente de Klerksdorp, e sim da  cidade  vizinha de Ottosdal, onde ficam as minas Wonderstone. Seria um  mero  detalhe, mas que praticamente todas as fontes alternativas o  ignorem ou  mesmo misturem este simples fato básico já é um sinal de  problemas. As  minas em que foram encontradas também já foram  incorretamente  denominadas como de prata, quando em verdade são  depósitos de  pirofilita. Este é um detalhe importante, como veremos  adiante.
As  esferas foram atribuídas a Klerksdorp simplesmente devido ao museu  da  cidade vizinha que as exibe e chegou mesmo a promover algo de seu   mistério. Os erros apenas começam aí.
Ao  contrário do promovido, as esferas foram descritas e estudadas   academicamente tanto antes quanto depois que passassem a fazer parte do   arsenal de vendedores de mistérios. Destas investigações acadêmicas se   destaca o trabalho do geólogo e arqueólogo Paul V. Heinrich, da   Universidade de Louisiana.
Heinrich  analisou a literatura acadêmica bem como a alternativa e  testou as  muitas características extraordinárias atribuídas às esferas   sul-africanas. Em um artigo publicado pelo National Center for Science   Education, o geólogo que também estudou cinco espécimes diretamente pôde   concluir que praticamente todas as alegações alternativas são falsas.   Um bom sinal de que Heinrich realmente sabia do que estava falando é  que  seu artigo é intitulado ” As Misteriosas ‘Esferas’ de Ottosdal, da   Africa do Sul, atribuindo corretamente a origem dos objetos.
Nenhum  dos espécimes examinados possuía dureza maior do que 5 na  escala Mohs –  sendo que o aço tipicamente alcança durezas de 7-8.
  
Cortando  espécimes ao meio, não se descobriu um material que virava  pó.  Tampouco uma liga de níquel-aço sobrenatural. Análises por técnicas  de  difração por raio-X, bem como exames petrográficos conduzidos também  no  departamento de geociências da Universidade do Nebraska, revelaram  que  são compostos de dois minerais: hematita, uma forma comum e muito   natural de óxido de ferro, e wollastonita, outro mineral metamórfico   comum.
A  alegação sobre a perfeição das esferas e de suas ranhuras é ainda   outro sinal do quão falaciosas são as histórias contadas por vendedores   de falsos mistérios. Uma simples vista às imagens que costumam   acompanhar seus artigos basta para notar as muitas imperfeições em todos   os espécimes apresentados. Heinrich nota como estes autores de fato se   contradizem, ora alegando que os objetos são “perfeitamente esféricos”, ora que são apenas “esféricos” ou por vezes concedendo que alguns são “esferóides”, “discóides” ou “oblongos”.
Os espécimes analisados diretamente por Heinrich incluíam “três espécimes aproximadamente esféricos, mas que definitivamente não eram ‘perfeitamente redondos’ como muitos autores alternativos alegam”, notou.
Mas  e quanto às análises do Instituto Espacial da Califórnia sobre a   perfeição dos… esferóides? Esta é a origem do suposto envolvimento da   NASA neste mistério. Os resultados chegaram mesmo a ser publicados pelo   Museu de Klerksdorp.
Detalhe: as conclusões do “técnico da NASA” não foram descritas diretamente, e sim em uma carta enviada ao museu por um certo John Hund,   que as teria ouvido. Heinrich consultou o Instituto Especial   diretamente, e um funcionário lembrou ter examinado uma esfera de   Ottosdal enviada por Hund.
“No entanto, [o funcionário] negou que qualquer de seus colegas tenha dito a Hund que o objeto possuía as propriedades extraordinárias descritas na carta e citadas pelo Museu de Klerksdorp. Ele sugeriu que teria havido ‘algum erro de transmissão’ e que Hund havia entendido de forma completamente errada o que lhe havia sido explicado. Além disso, [o funcionário] notou que a afirmação de Hund de que o Instituto Espacial da Califórnia fabrica giroscópios para a NASA é completamente falsa”.
Nem  NASA, nem Instituto Espacial da Califórnia. Uma simples olhada às   imagens das esferas basta para perceber que estão muito longe de serem   esferas perfeitas.
Finalmente, e quanto ao inexplicável poder de girarem sozinhas? Heinrich traçou a origem da história a Roelf Marx, curador do Museu de Klerksdorp. Mas aqui está outro “detalhe”:
“Marx declarou que um repórter havia citado erroneamente o que ele havia dito sobre a rotação dos objetos. De acordo com ele, é verdade que os objetos de Ottosdal haviam girado em seus mostradores no museu. Contudo, ele declarou enfaticamente que a história contada por Barritt (1979, 1982) de que os mostradores do Museu de Klerksdorp estão livres de vibrações externas é completamente falsa. De acordo com sua correspondência, Marx disse claramente ao repórter que as vibrações de explosões subterrâneas em minas de ouro locais faziam os mostradores vibrarem regularmente, fazendo com que os objetos de Ottosdal girassem. A julgar pelos relatos em primeira mão de Marx, é evidente que a alegação de que esses objetos giram por força própria é completamente falsa”.
Uma comédia de erros. Porém, se a história vendida por muitos é falsa, como explicar estes objetos?
Geologia
As  esferas são parte de uma grande gama de fenômenos naturais que   produzem uma enorme variedade de formas, dentre as quais as mais   simétricas são geralmente selecionadas e exibidas como “inexplicáveis”.
No  caso aqui, o fenômeno natural é a concreção, uma precipitação de   minerais em torno de um núcleo em meio a rocha que pode selar os poros   existentes ou mesmo substituir a rocha circundante. Um aspecto   fascinante é que o núcleo que dá origem à concreção pode ser um pedaço   de galho ou folha em meio à rocha sedimentar, e que devido ao seu   carbono pode atrair minerais carregados negativamente. Um objeto   orgânico irregular dando origem a uma rocha inorgânica esférica. A   concreção literalmente cresce ao seu redor, sendo assim comum que   adquira formas esféricas ou discóides.
                            Heinrich cortou os espécimes que analisou, e notou como:
“A secção de uma concreção de Ottosdal mostra uma estrutura interna radial típica destes objetos. Como outras concreções de Ottosdal, este espécime consiste de duas concreções crescendo em conjunto”.A estrutura radial deixa claro como o objeto “cresceu” a partir de um núcleo, por vezes em mais de uma concreção simultânea. A imagem também permite ver como as ranhuras que surgem na face exterior das esferas não são gravadas apenas em sua superfície, sendo sim parte da estrutura interna da concreção, refletindo as camadas de sedimentos em que cresceram.
Concreções variam largamente em tamanho, de alguns milímetros a mais se seis metros!
Acima, uma enorme concreção parte das “Bolas de Koutu”,  na  Nova Zelândia. O fenômeno geológico em si é relativamente comum,   ocorrendo por todo o planeta e sendo comumente associadas ao folclore   local.
Nos  Estados Unidos, concreções de óxido de ferro fazem parte das  tradições  Hopi, e são conhecidas como  ”pedras Moqui”, devido à tribo  local.  Abaixo, exemplos de pedras Moqui destacam sua similaridade com as   esferas sul-africanas:
No  vídeo abaixo, ainda que não se entenda chinês, é fácil compreender  que  há mistério sendo promovido pelo que tudo indica serem apenas mais   exemplos de concreções:
  
Mesmo  no Brasil, em anos mais recentes, um grupo que vende terrenos  para  contatos com discos voadores e se tornou mais conhecido por um  suposto “extraterrestre adolescente” que aconselhava a “buscar conhecimento” também tem promovido concreções esféricas e discóides como “sondas [extraterrestres] cuja capacidade energética foi esgotada … [e] se solidificam de acordo com as composições dos minerais que as abasteciam”.
São  rochas comuns entendidas pela geologia há muito, com uma  explicação  que envolve a passagem de milhares, ou processos por até  bilhões de  anos envolvendo de cargas elétricas e mesmo núcleos orgânicos  dando  origem a rochas inorgânicas de formas quase perfeitas. Evidências  do  fenômeno de concreção de hematita são mesmo uma das explicações   propostas para as pequenas esferas marcianas.
Embora como estas esferas podem ter se formado na geologia do planeta vermelho ainda permaneça em discussão.
Infelizmente,  a educação científica não chega a todos, e os mitos do  passado se  misturam com o do presente, a ponto de algumas histórias a  respeito de  concreções esféricas lembrarem mesmo lendas modernas como as  esferas do  seriado de desenho animado “Dragon Ball Z”.
A  natureza sim é capaz de criar estas formas, e entender como o faz e  os  mistérios verdadeiros que se estendem pelo sistema solar é  participar  do enorme conhecimento acumulado pela civilização em que  vivemos agora  mesmo.
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Obrigado
Adaptado de livescience e listverse

Muito interessante!! Não sabia da existência destas pedras...
ResponderExcluirUma boa semana!♥