O mundo está em mudança acelerada e nós que o habitamos não damos por isso.Apercebemo-nos que as coisas já não são o que eram, que as referências que considerávamos seguras, pura e simplesmente desapareceram, que já lá não estão quando necessitamos delas, mas apesar de tudo ainda não adquirimos a consciência profunda dessa mudança, ainda insistimos numa prática assente em filosofia que já é história.
Se fosse um extraterrestre de visita ao planeta, ficaria com a sensação que este é um mundo sem janelas, fechado sobre si mesmo, em que a informação é condicionada, prestada a conta gotas e orientada para o benefício de uma qualquer oligarquia sem rosto, mas que de facto controla com mão de ferro tudo o que por cá se passa, e fá-lo sustentada em estranho paradoxo: mais informação é menos informação.
Na verdade, quanto mais informação é disponibilizada, sem critério aparente, mais difícil se torna separar o trigo do joio. Por outro lado, essa informação é disponibilizada seguindo o método de ordenamento das prateleiras de um supermercado, estão lá todos os produtos, mas, pela sua localização, uns são visíveis e consumidos enquanto outros não.
Passa-se assim a mensagem pretendida sem que se corra o risco de vir a ser acusado de sonegação de informação… ela está lá, exposta, só que no que à acessibilidade diz respeito… estamos conversados.
Numa época em que a informação é poder, dá-se assim a falsa noção às pessoas de o terem nas suas mãos, muito embora seja uma sensação mais do que virtual, absolutamente enganosa, já que embora lhe tenham teoricamente acesso, na prática são manipuladas sem que disso tenham sequer consciência.
Exemplo gritante desta ditadura encapotada, foram as últimas legislativas que levaram à maioria absoluta os defensores do austeritarismo.
Ganharam porque silenciaram o contraditório, inundando a opinião pública com a inevitabilidade das medidas que preconizaram, ao mesmo tempo que sonegavam informação vital para os eleitores decidirem em consciência.
Impuseram um acordo que só tornaram público após o escrutínio e elaboraram sobre ele as mais variadas teorias, formatando as pessoas através do medo, chegando ao ponto de classificar de irresponsáveis propostas que agora defendem, como a reestruturação da dívida, ou a auditoria da mesma.
Apodaram de mentirosos os que defendiam ser impossível sair da recessão com as medidas se austeridade apregoadas, negaram que fossem aumentar impostos, retirar direitos ao trabalho, reduzir a escombros o SNS ou a Escola Pública.
A informação, de fato estava disponível, mas só acessível a quem tivesse a ciência e os meios para chegar a ela, ultrapassando a barreira mediática imposta pelo poder financeiro.
Isto passou-se em Portugal, mas não diverge da realidade global; sabe-se agora que o nosso país é o quarto mais exposto à dívida grega, vários bancos portugueses estão envolvidos neste assassinato de um povo, como? Simples! Foram financiar-se ao BCE com juros a 1% para depois especularem com a dívida grega a juros de 10%!
Utilizaram esse dinheiro para apostar no sector produtivo? Para estimular a nossa economia? Para apoiar as pequenas e médias empresas? Não. Usaram-no para especular, na mira do lucro injustificável.
Agora vão ter de perdoar mais de 50% da dívida. Preocupam-se? Não! Porque como vai sendo hábito, quem vai pagar não são eles, seremos nós.
A questão que ponho é a seguinte: se tivéssemos acesso à informação antes do facto consumado, isto aconteceria?
Que raio de democracia é esta?
“Numa época em que a informação é poder, dá-se assim a falsa noção às pessoas de o terem nas suas mãos, muito embora seja uma sensação absolutamente enganosa”.
Fonte
RESPONSABILIDADE
Há 12 anos
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