17 de dezembro de 2013

A CIÊNCIA BUSCA ENTENDER COMO O CORPO REAGE A UMA AMEAÇA

Desvendar como o cérebro percebe o perigo é chave para entender doenças como a síndrome do pânico.

Nas trilhas do medo, ciência busca entender como o corpo reage a ameaças Leonardo Azevedo/Arte ZH
De uma coisa não restam dúvidas: o medo é essencial para a preservação das espéciesFoto: Leonardo Azevedo / Arte ZH
Paloma Oliveto

Pode ser o barulho seco de um galho quebrando ou um vulto que passa sorrateiro. Os sentidos se aguçam, as pupilas se dilatam, os pelos eriçam, o coração dispara. Orquestrado pela mente, o corpo todo reage. Por cada poro, brota o medo, uma das mais primitivas emoções do homem.

Entender o que se passa no cérebro antes mesmo que a razão perceba o perigo é um dos desafios da ciência. Mas ainda há muito o que se descobrir, principalmente porque aí pode estar a chave para o tratamento de condições desafiadoras, como a síndrome do pânico e o transtorno da ansiedade generalizada.

De uma coisa não restam dúvidas: o medo é essencial para a preservação das espécies. Temer o perigo é condição básica para driblar os predadores e escapar de situações potencialmente arriscadas. Testes com animais revelam um padrão diante de ameaças. “Fuja ou lute”, parece dizer o cérebro. O que vai definir a escolha é um duplo processo iniciado pelo tálamo, a região que capta os estímulos externos e os passa adiante. O corpo é extremamente sensível à possibilidade de ameaças. Múltiplos caminhos levam a informação do medo até o cérebro.

Pavor rotineiro

Há indivíduos que sentem medo o tempo todo. Alguns cientistas acreditam que a síndrome do pânico e o transtorno de ansiedade generalizada podem estar relacionados com a ativação do sistema “fuja ou lute” diante de acontecimentos estressantes do dia-a-dia. O tálamo identificaria no estresse uma ameaça e, como no caminho rápido, enviaria essa informação à amígdala. A região do cérebro que decodifica emoções interpretaria a situação “ameaçadora” sem dar tempo para o córtex sensorial avaliar racionalmente o estímulo.

O neuropsicólogo Justin Feinstein, da Universidade de Iowa (EUA), acredita, porém, que os distúrbios do medo passam longe da amígdala, o que evidenciaria a participação de outras regiões do cérebro na formação do pânico. Ele chegou a essa conclusão ao estudar o curioso caso de S.M, uma artista plástica de 47 anos que sofre da doença de Urbach-Wiethe, caracterizada pela ausência de temor.

Na adolescência, as amígdalas de S.M. foram destruídas e, com elas, qualquer resquício de medo. A paciente revelou que andar de montanha-russa, por exemplo, é divertido e engraçado, mas que não consegue sentir nem um friozinho na barriga.

Contudo, a equipe de Feinstein fez a mulher provar uma sensação que há décadas desconhecia: os médicos deram uma dose de CO² para ela inalar. O gás causa sensação de falta de ar e induz pessoas normais ao estado de terror. Pouco depois do início do teste, S.M. gritou por ajuda. A artista descreveu aos médicos um estado mental terrível, completamente novo – pânico.


– Seus batimentos cardíacos aceleraram, ela estava completamente estressada, temendo por sua vida – afirma Feinstein.

De acordo com o psicólogo, enquanto informações do mundo externo são filtradas pelas amígdalas antes de o medo ser produzido fisiologicamente, os sinais de pavor originados dentro do indivíduo seguem por uma rota diferente.

– É uma descoberta que pode ser fundamental para explicar por que as pessoas têm ataques de pânico – avalia.

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